Filme “A Vida é Bela”
1.
O perfil
da personagem principal e a forma como os seus traços de personalidade são
importantes para o desenrolar da ação.
Guido,
a personagem principal, é um pai de família judeu, que vive para a família,
animando os seus dias ao torna-la numa audiência que tenta entreter, inspirar e
celebrar o mundo com ele.
No
decorrer do filme apresenta-se como uma figura representativa do humor,
altruísmo e amor puro. Altruísta porque age de forma a atenuar o sofrimento das
pessoas que mais gosta, a mulher e o filho, contribuindo ao mesmo tempo e
involuntariamente (talvez) pela atenuação do sofrimento, da tristeza e do
espírito depressivo dos restantes membros do campo de concentração onde se
encontram. Guido tenta a todo o custo, com o amor belo e incondicional de pai,
proteger Giosué do mal de que a raça humana é capaz desde o momento a partir do
qual são enviados para o campo de concentração. A sua vasta imaginação continua
a prosperar e é desafiada pela cada vez mais dura realidade que vão enfrentado
no passar dos dias.
Todavia,
esta mistura de humor e altruísmo pode ser interpretada como um certo egoísmo
inconsciente de Guido, o qual transforma também a sua própria realidade numa fantasia
de forma a proteger, ocupar e afastar o seu pensamento do sofrimento,
negatividade, tristeza e depressão.
Independentemente
de quais os verdadeiros motivos desencadeantes destes traços de personalidade
de Guido, é indubitável que a sua forma de ser e agir permitiu ao seu filho
vivenciar uma experiência potencialmente traumática como aquilo que viria a ser
uma última memória dos momentos de cumplicidade, amizade e amor com o seu pai.
2.
O humor
assume um papel relevante na evocação e análise crítica do passado, bem como na
perceção do presente e do futuro. Refletir sobre os limites desse humor e sobre
os potenciais riscos da sua utilização em abordagens de momentos sombrios como
o Holocausto.
Roberto
Benigni, realizador e escritor desta obra cinematográfica, realizou uma
abordagem, talvez, um pouco arriscada uma vez que usou humor para relatar e
caracterizar um dos periodos mais sombrios da história do ser humano. Ao
reproduzir no filme um tema como este: o holocausto e, na qual, nos restantes
filmes é tratado e abordado de uma forma mais séria, sóbria e severa, assumiu um risco deveras elevado. Esta foi,
sem dúvida alguma, uma abordagem diferente, mas achamos que resultou. Esta
perrmitiu não só ao espectador ter uma
diferente perspetiva daquele período, mas contribui, também, para uma reflexão
profunda sobre o que de facto eram os pensamentos dos prisioneiros e o que
faziam na tentativa de escapar aquela realidade dura, cruel e injusta.
Benigni ao
usar um método de abordagem que não era de tudo usado na altura, conseguiu
proporcionar, na mesma, uma experiência e perspetiva diferente no espectador,
ou seja, dependo da criatividade de cada um, é sempre possível contar uma
história, marcar um espectador, provocar reflexão, causar impacto se o trabalho
for realizado com qualidade, empenho e, neste caso, com grande respeito em
relação a um dos piores momentos da história da humanidade.
3.
Comente
o contexto ético-político-social em que o filme se desenrola, justificando.
O
filme desenvolve-se numa época política liderada pelo partido de extrema-direita,
cujas ideologias viriam a culminar no Nazismo e, consequentemente, no
Holocausto. Expõe uma época marcada pelo genocídio irracional e imoral de todos
aqueles que não correspondessem aos critérios definidos como perfeitos da raça
Ariana. Esboça a indiferença das pessoas que defendiam esse regime perante os
vários comportamentos racistas e desumanos que eram praticados na época.
Temos
o exemplo do governador que iria discursar sobre a perfeição da raça Ariana
perante as crianças de uma escola. Temos a diretora dessa mesma escola, cuja
preocupação era a dificuldade dos exercícios matemáticos a que as crianças eram
sujeitas e não o típico exemplo utilizado nestes mesmos exercícios: “Um demente
custa 4 marcos por dia. Um aleijado, 4 marcos e meio. Um epilético, 3 marcos e
meio. Considerando que a média é de 4 marcos por dia e há 300 000 doentes,
quanto pouparia o Estado se esses indivíduos fossem eliminados?”, uma questão
que desvalorizava tão facilmente a vida de alguns, desvalorização essa que era
transmitido desde a infância. Porém, este não chocava os presentes uma vez que
naquele período era defendida a ideia de eutanásia em doentes físicos e mentais
para que o Estado tivesse mais recursos para os outros doentes.
O
médico, um homem cuja profissão deveria incidir na proteção daqueles que acudam
à sua ajuda, revela-se aqui como um homem demasiado centrado nele próprio e nas
suas adivinhas, esquecendo a tragédia que o rodeava.
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