domingo, 21 de maio de 2017

Sessão de Literatura

Capítulo V
Proceder a uma síntese dos capítulos indicados associada a uma reflexão sobre “O Médico e a sua relação com o Doente no ambiente do “Banco do Hospital”

Este capitulo centra se essencialmente no encontro de João Eduardo com o seu amigo e colega de faculdade Magalhães. Magalhães era um médico da província, tal como João Eduardo fora no início da sua carreira. No entanto, João Eduardo era agora um médico conceituado em Lisboa, pois tinha corrido o risco de vir para Lisboa e tinha tido a sorte de ser convidado por um antigo professor para estagiar como assistente na Faculdade de Medicina.
O encontro entre os dois colegas e amigos ocorre enquanto Magalhães acompanha uma das suas doentes da aldeia a uma consulta. Ambos se sentam no “banco dos doentes” e João Eduardo faz a “pergunta convencional, feita sem levantar a cabeça: «De que é que se queixa?»”. Como não olhou para quem estava à sua frente não reconheceu o próprio amigo, assim como também nunca reconheceria os seus doentes, pois não olhava para eles nem os “via” realmente.
O seu amigo veio a Lisboa para pedir que lhe arranje um emprego em Lisboa. Magalhães está com problemas de dinheiro e também parece sofrer de abuso do álcool.
João Eduardo sente se relutante em ajudar o colega, pois sabe que na cidade é difícil arranjar emprego e existe um preconceito sobre os médicos que vêm da província. No entanto, em parte influenciado pela sua mulher Luísa, que o informa que abriu uma vaga para um médico no Banco da Índias, decidi falar com um dos administradores do banco para que seja Magalhães a ocupar o cargo.
Tal como previra, o administrador do banco não aceita a pretensão de um “João Semana” ao cargo de médico do Banco. Para além de recusar oferecer o cargo a Magalhães por ser um médico de província, sugere que seja João Eduardo a ocupar o cargo.
Um cargo no Banco não era algo que ele ambicionasse, mas permitir-lhe -ia ter uma segurança caso a sua carreira sofresse algum percalço. Por outro lado, lembrava-se do amigo que precisava de ajuda, e que também ele próprio fora em tempos um “João Semana”. Tinha deixado de o ser, porque alguém o tinha ajudado.
A segurança da sua carreira falou mais alto e acabou por aceitar o cargo.  João Eduardo sente se culpado e desiludido consigo próprio. Também ele tinha sido ajudado em tempos e a partir daí tinha erguido a sua carreira. Nesta fase reflete sobre a que custos tinha conseguido o estatuto que hoje detinha e se de facto tinha tido sorte ou se tinha sido a sua tenacidade a levá-lo ao ponto em que se encontra. Será que tinha tido sorte? Será que tinha prejudicado alguém para ter a carreira que desejara? Não ajudou o seu amigo, ficando com um cargo de que não necessitava, ele que também tinha sido um médico de província. Que era feito dos seus valores?

A sociedade e o mundo do trabalho em particular vivem muito de preconceitos e competição. Para João Eduardo era ser médico de província ou da cidade, era ter mais um cargo para ter mais estabilidade. E para nós? Se não são estes os preconceitos são outros semelhantes. Todos queremos as melhores escolas, os melhores campos de estágio, os melhores projetos. É certo que para sermos bons médicos temos de ter uma boa formação, mas ser médico é mais que formação e técnica. Como é que podemos tratar pessoas doentes e vulneráveis se nos esquecemos do que é a humanidade? Se não somos capazes de a ver nos nossos a humanidade nos nosso colegas e amigos. A medicina é um trabalho de equipa, é preciso confiar em quem trabalha connosco.
A “máquina” que move o mundo do trabalho e o cansaço podem desumanizar a nossa profissão. Talvez seja mais fácil não ver realmente quem se senta à nossa frente, mas é o nosso papel não deixar que a medicina se desumanize. As pessoas que vão ao médico recorrem a um estranho e nele confiam a sua vida. Por muito que a vida nos empurre e puxe na direção errada devemos ser firmes nos nossos valores, porque os nossos doentes merecem, e porque todos nós antes de sermos médicos vamos jurar “prometo solenemente consagrar a minha vida ao serviço da Humanidade”. 

Tal como disse Luísa:
“Ser útil a alguém é, pelo menos, sentirmo-nos menos sós. Menos crestados por dentro, João. De contrário, o nosso pequeno espaço humano vai-se fechando, até ficarmos lá dentro tão emparedados que nem um grito se ouvirá cá fora. Já nem vale a pena gritar, não é isso, João?”    

Não podemos deixar chegar o tempo em que já não vale a pena gritar.

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